Sociedade Brasileira de Educação Tutorial promoverá o ensino para além das fronteiras petianas

Durante o I Congresso Brasileiro de Educação Tutorial, realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, nos dias 01 e 02 de abril, foi criada Sociedade Brasileira de Educação Tutorial (SbrET). A fim de compreender melhor a linha de atuação e as implicações deste grupo no Programa de Ensino Tutorial (PET), entrevistamos os membros da diretoria da SbrET, Darlana Godoi (egressa do PET-Educação da UnB e atualmente funcionária da CAPES-MEC; Javan Pires dos Santos (egresso do PET-Biologia da UFC, atualmente funcionário da CHESF); e Luiz Eduardo R. de Carvalho (Tutor do Grupo PET-Farmácia/Saúde Pública da UFRJ).


Quando surgiu a ideia de criar a Associação?

Luiz Eduardo: A idéia de criar a SBrET é antiga. Já durante o ENAPET, em Florianópolis, isso foi conversado entre vários tutores. Assembléias para fundação da SBrET foram imaginadas, ano após anos, para realização em paralelo aos diversos InterPETs-Rio. Mas sempre terminávamos entendendo que não havia massa crítica suficiente. Neste momento talvez ainda não haja, mas a conjuntura aponta uma necessidade que torna a decisão inadiável. Além disso, surgiu essa oportunidade, com a realização do X SE-PET aqui no Rio. Aproveitou-se a presença de vários dos companheiros - tutores e petianos egressos - que vinham partilhando, há anos, este projeto. E, principalmente, porque com o abandono do projeto de criação de uma Associação Nacional de Egressos Petianos, as lideranças de tal projeto vieram se somar aos que pretendiam criar a SBrET. Para a Assembléia de Fundação da SBrET, foram convocados aqueles que, ao longo do tempo, trabalharam na formatação do “projeto” e, também, dos Estatutos. Na última hora, esses convocados tomaram a iniciativa de convidar outros companheiros para a Fundação, e foi muito bom vermos que mais gente se interessou e, inclusive, veio fazer parte da Diretoria e do Conselho. Aliás, todos os membros fundadores serão Conselheiros-Natos.

Darlana: Tinhamos uma idéia desde 2006 de criarmos uma Associação de egressos dos grupos de Educação Tutorial, queríamos continuar contribuindo com o fortalecimento da educação superior e influenciarmos no andamento do programa. Infelizmente durante o Enapet em Florianópolis os egressos que estavam à frente deste projeto não conseguiram concretizar a associação, a hora não era a mais propícia, estávamos em um momento político delicado o que acabou criando alguma resistência ao modelo proposto que era de representação dos egressos. Sendo assim quando surgiu a proposta feita pelo Luiz Eduardo, de criarmos a Sociedade Brasileira de Educação Tutorial abraçamos a idéia, pois ela convergia nossas propostas além de não ser uma entidade representativa.


Quais foram as dificuldades encontradas no processo de elaboração do projeto?

Javan: Uma das dificuldades encontradas por alguns dos membros do grupo é conciliar suas atividades profissionais com a discussão sobre educação tutorial. Existe uma parte considerável dos fundadores que é formada por egressos do programa, ou seja, estudantes que já foram bolsistas, mas que agora estão exercendo suas profissões no mercado de trabalho. Nós entendemos que nossas experiências dentro do PET, principalmente em contato com o Prof. Luiz Eduardo, nos forneceram uma perspectiva única sobre ciência e sociedade que nos auxilia dentro das nossas atuais ocupações. A vivência dentro do programa nos antecipou, por exemplo, diversos conflitos nos quais um profissional dito de “excelência”, geralmente é levado a intervir, dentro, é claro, de sua formação: política, campos de poder, processos decisórios, administração pública, relações de trabalho, produção de ciência e pensamento crítico. Embora formemos um grupo heterogêneo de profissionais e estejamos agindo em diversas esferas de ação econômica e social, públicas ou privadas, sentimos que existe uma enorme dívida por aquilo que nos foi ensinado, e a maneira que encontramos de pagá-la é contribuir com a Educação Tutorial através das experiências que estamos conseguindo através das nossas leituras e experiências no campo do trabalho

Darlana: Acredito que a maior dificuldade enfrentada foi construir democraticamente esta proposta, somos um grupo bem heterogêneo, cada um de nós mora em locais diferentes, temos agendas apertadas e sendo assim nossa maior aliada foi a internet, por meio dela conseguimos trocar idéias e construir o esqueleto de nossa entidade, arregimentar pessoas realmente interessadas na discussão e conseguir reunir estas pessoas foi muito difícil. O Congresso de Educação Tutorial permitiu que os fundadores pudessem se encontrar presencialmente, a maioria deles foi ao Congresso com recursos próprios, este encontro nos proporcionou a ocasião propicia para a fundação da entidade.


Como funcionará a Associação?

Luiz Eduardo: O caminho será estabelecido enquanto caminhamos. Mas com certeza sabemos onde queremos ir e onde queremos não ir. Por exemplo, a SBrET não é uma alternativa frente à CENAPET. Esta se construiu, historicamente, como uma entidade representativa, muito atuante em defesa do PET, enquanto Programa. E merece e necessita do suporte e do apoio de todos os petianos. Porém, depois de tantos anos, fica claro que a CENAPET não se ocupou de atividades, digamos, de produção acadêmica. Sequer a organização programática, ou mesmo financeira, dos encontros regionais e nacional, a CENAPET logrou assumir. Mas tem sido enorme seu sucesso em atividades políticas de proteção e promoção do Programa. Já a SBrET se ocupará de estudar e promover a Educação Tutorial, o que transcende o PET, na medida que envolve pessoas que não fazem parte do PET e na medida que ambiciona disseminar a Educação Tutorial, como método, para além das fronteiras petianas. Em resumo, a SBrET se coloca como um complemento aos importantes trabalhos já produzidos pela CENAPET, mas em outro campo, por outros meios e incluindo participantes externos ao PET.

Darlana: A SBrET pretende trabalhar principalmente com a consolidação da Educação Tutorial como conceito e metodologia, acredito que esta consolidação se dará quando começarmos a publicar e difundir a metodologia para além dos grupos institucionais. Pretendemos realizar eventos e promover publicações virtuais ou impressas, tudo na medida de nossas possibilidades, para isso contamos com nossos membros que são pessoas que viveram e pensam a Educação Tutorial e tem muito para contribuir.


Quais são os objetivos da associação?

Javan: Acreditamos que a universidade não é um fim em si própria. Ela deve agir para formar profissionais que vão trabalhar na universidade, mas também para os que trabalharão fora dela. A vivência que tivemos no PET nos mostrou que existe uma espécie de carência, na medida em que estudantes são formados para serem professores universitários e pesquisadores, sem atentar para dois aspectos: a) uma formação acadêmica passa necessariamente por uma formação crítica e política, afinal o profissional terá que tomar decisões e elas não podem ser baseadas sem que se entenda o contexto onde elas vão ser inseridas; b) existe um amplo mercado de trabalho fora da universidade que poderia receber profissionais capazes de agir utilizando os conhecimentos técnicos que receberam para transformar as relações sociais e produtivas existentes e, no entanto, não existem estes profissionais. Sem conhecimento das relações de poder que atravessam a sociedade e a própria instituição onde trabalham, ao invés de transformadores, acabam servindo como instrumento da reprodução das atuais relações. Pensamos que um caminho interessante a ser trilhado pode vir da ação pedagógica de um professor-tutor, com experiência ou intenção de trabalho em outras instâncias fora da universidade, munido preferencialmente de um projeto com planejamento e estrutura para expandir as vivências acdêmico-profissionais de seus tutorados. Nosso objetivo como grupo é estruturar e difundir essa perspectiva e outras que possam reforçá-la.

Luiz Eduardo: Os fins são a consolidação e difusão da metodologia de Educação Tutorial em nossas universidades. Ou mesmo em outros níveis, incluindo o Ensino Médio. Os meios serão, por enquanto, a realização de seminários regionais sobre a Metodologia, bem como a continuidade no apoio aos Congressos Brasileiros de Educação Tutorial. Também ocorrerá apoio físico e institucional às atividades da CENAPET, da SESu ou do ForGrad, sempre que isso nos for solicitado.


Quais serão as formas de atuação e funcionamento institucional pelas quais essas metas serão buscadas?

Javam: Assim que a organização estiver mias consolidada, aproveitando a experiência produzida no primeiro e nos próximos eventos, é provável que passemos para um próximo passo que é o da produção acadêmica. Artigos, ensaios, análises, livros, entrevistas, blogs acadêmicos etc., produzidos a partir de nossas experiências e perspectivas, podem funcionar como instrumentos interessantes para a reflexão sobre educação tutorial no contexto sócio-político e pedagógico brasileiro.

Luiz Eduardo: Foi eleita uma Diretoria provisória, a partir da Assembléia que reuniu cerca de 40 companheiros, alguns deles não petianos, mas com atuação histórica nos movimentos universitários. E novos membros vêm se associando à SBrET, cujo ingresso é livre, gratuito e aberto a todos os interessados. Deve ficar claro que a SBrET não é, nem pretende, representar petianos, tutores ou egressos do PET. A SBrET, no máximo, fala em nome de seus associados, sendo que nem todos são petianos. Apesar da SBrET ser uma sociedade privada, as portas da Assembléia estiveram publicamente abertas a todos que se dispuseram a entrar até o início das votações. A partir daí o ingresso foi vetado, porque não fazia mais sentido ter a presença e o voto de quem não participou dos trabalhos anteriores, e nem sequer da própria Assembléia. Compreende-se que alguns, inicialmente, se sentiram incomodados com a criação da SBrET. Mas não há e nem haverá motivo legítimo para isso. Viemos para somar, com trabalho. E, obviamente, outros colegas podem se tornar sócios e participar dos debates da SBrET a qualquer momento, bem como podem, por iniciativa deles, fundar uma outra entidade, um Instituto, uma ONG, um Colégio, uma Associação igualmente voltada para Educação Tutorial. Nós fundamos esta. E sabemos o que e como fazer com ela. Queremos aprofundar, consolidar, debater e difundir a Educação Tutorial. Todos que tiverem a mesma intenção sincera, com certeza, serão parceiros. Para implementar estas propostas, inicialmente a SBrET deverá focar na realização de Seminários Regionais e apoiar a realização do II Congresso Brasileiro de Educação Tutorial, a princípio programado para fevereiro de 2011, novamente na UFRJ.