Energia nuclear é necessária para o Brasil

Fonte de energia representa a segunda matriz elétrica do país. Mesmo com todas as polêmicas envolvidas no seu uso, a engenheira da Eletronuclear Olga Simbalista afirma que a energia nuclear surge como possibilidade e, no caso do Brasil, já é uma necessidade. Leia mais.

O atual cenário de crise ambiental, que tem como um dos principais motivadores a alta demanda de recursos naturais por parte do homem, exige que a sociedade pense alternativas para reduzir o impacto das ações humanas no meio-ambiente, como a queima de combustíveis fósseis, que provêem energia para a manutenção de seu ritmo de desenvolvimento.

Olga: Angra 1 e 2 foram fundamentais na época do ‘apagão’

Em meio à necessidade de se diminuir a emissão de gases provenientes dessa queima, a energia nuclear, mesmo com todas as polêmicas envolvidas no seu uso, surge como possibilidade e, no caso do Brasil, já é uma necessidade. É o que disse Olga Simbalista, engenheira da Eletronuclear, em palestra proferida no segundo dia da Semana de Engenharia Civil da UFRJ.

De acordo com Olga, a energia nuclear já é a 2ª matriz elétrica do Brasil, atrás apenas das hidroelétricas.

– Temos uma das maiores reservas de urânio - elemento químico de onde se extrai a energia nuclear – no mundo e dominamos seu ciclo de enriquecimento, condição só equiparada por Rússia e EUA. Na época do racionamento, não fosse pelas usinas Angra 1 e 2, teríamos sofrido quedas de luz em todo o país.

A engenheira justificou a necessidade da utilização dessa forma de energia, argumentando que, mesmo com a construção das hidroelétricas do Rio Madeira, já em andamento, o Brasil terá que explorar, cada vez mais, a energia termoelétrica, altamente poluidora.

– Além do constante risco de estiagens, existe uma limitação físico-espacial para a construção dos reservatórios necessários para o funcionamento das hidroelétricas.

Segurança e lixo atômico: riscos contornáveis

Além do fato de poluir menos, Olga ainda citou outras vantagens da energia nuclear, como o a eficiência do urânio. Com 10 gramas do mesmo, é possível realizar o trabalho que 700 kg de óleo ou 1200 Kg de petróleo fariam.

– Até o transporte da matéria prima seria facilitado, pois uma pequena quantidade rende muito – afirmou.

Questionada sobre segurança das usinas em Angra dos Reis, fator que sempre é motivo de polêmica em se tratando de energia nuclear, a palestrante foi enfática:

– Em mais de 2 milhões de horas de operação, a indústria nuclear sofreu apenas dois acidentes: o de Three Mile Island, nos EUA, que não teve conseqüência alguma, e Chernobyl. Este último foi um acidente praticamente encomendado, pois foi causado por uma bateria de testes mal planejados e executados. Além disso, o tratamento de urânio para fins bélicos, em que se usa um reator diferente do nosso, é muito mais arriscado – disse Olga, lembrando ainda que existe um sentimento de medo e ressabiamento em função do uso que se fez dessa matriz energética na 2ª Guerra Mundial.

Mas a segurança não é o único problema. Durante o processo de enriquecimento de urânio, resíduos radioativos foram liberados, formando o chamado lixo atômico, cujo destino ainda é discutido mundialmente. No entanto, Olga afirmou que isso não é problema, pelo menos num primeiro momento, para o Brasil.

– O nível de exigência de Angra 1 e 2 é baixo, por isso, os resíduos são poucos e podem ser armazenados em piscinas especiais, por até 40 anos. Depois, poderão ser armazenados em rochas sedimentares, até que o nível de radioatividade abaixe – concluiu a engenheira.


Revista Vetor – Ano 2 – Número 2 – Dez. 2008