Engenharia com responsabilidade social

Intervenções físicas do PAC em Manguinhos, Alemão e Rocinha serão acompanhadas de ações sociais, legitimadas pela presença do Estado. Leia mais.

Enfim, experiências como a construção de complexos habitacionais como a Cidade de Deus e Nova Sepetiba e o próprio favela bairro parecem ter surtido efeito positivo; pelo menos no sentido de forçar as autoridades a pensar o problema da habitação de modo diferente.

A lição aprendida com esses projetos, de acordo com o engenheiro Ícaro Moreno, diretor da EMOP (Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio), é que deve existir um trabalho voltado não apenas para transformações físicas e estruturais, mas que ofereça condições para se resolver, em longo prazo, os problemas sociais das comunidades.

Em palestra ministrada no dia 27, segundo dia da Semana de Engenharia da UFRJ, Moreno destacou o plano de ações sociais que está embutido no orçamento do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) voltado para as comunidades de Manguinhos, Alemão e Rocinha.

A construção de centros cívicos no interior das comunidades, como os centros de educação, habitação e de apoio jurídico, bem como de escolas e centros de assistência médica, são exemplos de medidas que visam aumentar a qualidade de vida dos moradores, que já sofrerão um impacto positivo das obras infra-estruturais previstas pelo PAC.

- Programas como o ‘Favela Bairro’ pecavam pela falta de um trabalho social para acompanhar as transformações em nível físico. O PAC, além de prever medidas de cunho social, dará condições para o Estado ter presença constante nessas comunidades, - disse o engenheiro, que fez mestrado na própria UFRJ.

Essa visão diferente tem como modelo a experiência de reurbanização promovida pelo Governo colombiano, em Médelin, onde Ícaro ficou por uma semana.

- O programa colombiano preocupou-se em capacitar as comunidades socialmente, o que possibilitou maior inclusão social, - explicou.

A inserção de serviços públicos nas comunidades beneficiará, de forma direta, não só as mesmas, mas o resto da cidade. Um exemplo é o fato de que, com a construção de um centro de assistência médica na Rocinha, a emergência do Hospital Miguel Couto, constantemente lotada, será desafogada. Outro benefício que se estende a toda a cidade é a reestruturação do sistema de esgotos da região do Complexo do Alemão, responsável por boa parte do lançamento de detritos na Baía de Guanabara.

- Nós implantaremos um sistema de saneamento básico dotado de um ‘separador’, que divide as águas pluvial e de esgoto, permitindo seu tratamento. Com isso, com certeza, haverá uma redução do lançamento de esgotos para a Baía.

Conheça as principais ações previstas pelo PAC para o Complexo do Alemão, Manguinhos e Rocinha

Alemão

A Igreja da Penha com o Parque da Serra da Misericórida ao fundo em meio ao complexo do Alemão, que deverá ter sistemas viário, de esgoto e rede elétrica reestruturados.


Projeto Teleférico: “um projeto de massa”


Com duas estações (uma no Morro do Alemão e outra na Fazendinha), o teleférico, cuja cabine terá capacidade para 10 passageiros, será utilizado por cerca de 30 mil pessoas por dia.

Benefícios
Integração externa e interna das comunidades; sistema de movimentação não poluente.

Sistema Viário
Abertura e alargamento de vias arteriais, de penetração, locais e de serviço, que ajudarão a integrar as comunidades.

Habitação
Remanejamento de 4000 famílias, que estão em áreas onde serão executadas as obras.
Construção de 2600 apartamentos com dois andares.

Ambiente
Saneamento básico; eficiência energética (captação de sol e chuva); reflorestamento do Parque da Serra da Misericórdia, que terá um lago artificial no topo.


Manguinhos

As ações nessa comunidade seguirão o padrão das executadas no Alemão, mas adaptadas às suas condições específicas.

Como Manguinhos é uma região fragmentada, com diferentes comunidades separadas por muros e uma linha férrea, um dos objetivos é integrá-la, através da elevação da linha de trem e da construção de um extenso parque abaixo da mesma. A idéia, segundo Ícaro, é melhorar a qualidade de vida nessa área que tem o 5º pior IDH da capital.

Na imagem: Simulação do complexo de Manguinhos após obras do PAC. Linha férrea, com grande parque abaixo: possibilidade de maior integração entre as comunidades.

Rocinha

Problemas
Grande adensamento populacional; áreas escuras, com pouca ventilação, o que vêm causando alta incidência de casos de tuberculose.

Soluções
Com as obras do PAC, serão abertas ou alargadas as principais vias da comunidade e famílias que vivem em áreas de risco serão remanejadas. Também serão removidas as casas que estão logo acima do túnel Zuzu Angel, através da implantação de um plano inclinado que limitará a expansão nessa direção.

Integração com São Conrado
A Rocinha é cercada por bairros de classe alta como São Conrado e Gávea. No entanto, são espaços ainda muito segregados. No intuito de se promover maior integração entre os moradores, Oscar Niemeyer desenhou a “Praçarela”, que ligará a Rocinha a São Conrado. O arquiteto doou o projeto à comunidade.

Acesso à comunidade
Elevador em plano inclinado, construído próximo à escola de samba da comunidade, facililtará acesso e limitará, ao mesmo tempo, a sua expansão.


Revista Vetor – Ano 2 – Número 2 – Dez. 2008