Quando o Jornalismo se repensa

O PET-ECO, coordenado pelo Prof. Dr. Mohammed ElHajji, estruturou uma eficiente Comissão Organizadora para a II Semana de Jornalismo da UFRJ. Um dos segredos do sucesso: alunos veteranos e calouros interessados, tutelados pela experiência de um professor orientador, exercitam ações responsáveis e conseqüentes. Artigo de Cristina Rego Monteiro, professora da Escola de Comunicação da UFRJ, especial para a Revista Vetor. Leia mais.

A II Semana de Jornalismo da UFRJ chegou com ares de tradição: logomarca reconhecida em folders e cartazes, agitação entre os alunos, banca de venda de livros na porta, Auditório Pedro Calmon cheio, nomes fortes nas identificações das mesas, câmeras e microfones na mão de estudantes e de funcionários da CPM (Central de Produção Multimídia), a postos para dar longa vida ao evento. No DNA da organização, o Programa de Ensino Tutorial da Escola de Comunicação da UFRJ (PET-ECO), um dos segredos do sucesso: alunos veteranos e calouros interessados, tutelados pela experiência de um professor orientador, exercitam ações responsáveis e conseqüentes.

O PET-ECO, coordenado pelo Prof. Dr. Mohammed ElHajji, estruturou uma eficiente Comissão Organizadora, composta por alunos da graduação: Camila Nobrega (último período de jornalismo), Erick Dau (4º período de jornalismo), Gustavo Barreto (formado em rádio e TV), Guilherme Tomaz (7º período de rádio e TV), Iasmine Pereira (3º período ciclo básico), João Montenegro Reis (6º período de jornalismo), Manuela Andreoni (4º período de jornalismo), Ricardo Cabral (2º período do ciclo básico) e Tainá Vital (7° período de rádio e TV). Os que vinham antes, os que já estavam, os que chegaram, juntos aprendendo e experimentando fazer acontecer.

A Meio a Meios foi aberta pela diretora da ECO (Profª. Dra. Ivana Bentes), pelo Prof. Dr. Mohammed ElHajji, pela coordenadora de jornalismo (Profa. Dra. Ana Paula Goulart) e por mim, que respondo atualmente pela Coordenação do Ciclo Básico. O Prof. Dr. Muniz Sodré, professor titular da ECO / UFRJ e um dos maiores pesquisadores latino-americanos no campo da comunicação, fez a palestra inaugural (Blogueiro é jornalista?) abordando o tema Jornalismo e Cidadania Global.

A inspiração do Prof. Muniz veio da matéria recentemente publicada pela Revista Imprensa, Blogueiro não é jornalista, tema recorrente em tempos de grandes mudanças para as relações profissionais que se estabelecem entre artífices especializados da notícia, as estruturas empresariais que os contratam e o público, que começa a deixar de ser apenas consumidor.

A azeitada capacidade de aferição intelectual de Muniz suspeita de afirmações definitivas a respeito de fenômenos emergentes, já que, como afirmou, este novo ‘medium’ só vai se tornar claro daqui há 30, 40 anos. Muniz também é sensível aos ventos de mudança que sopram no campo da comunicação. Talvez por isso ele tenha lembrado do pássaro Dodô, estabelecendo um paralelo entre os jornalistas e esta estranha ave, desaparecida já no século XVII.

O pássaro Dodô vivia em ilhas da costa africana, no Oceano Índico. Era uma espécie de pombo gigante. Foi extinto a pauladas para alimentar os marinheiros famintos que aportavam na região. Chegava a pesar 23 quilos. Quando um era atacado, outros aproximavam-se e eram mortos também – eram dóceis e inofensivos, nunca haviam convivido com mamíferos predadores. Hoje restam do Dodô uma cabeça no Museu de Oxford, um pé no Museu Britânico e uma outra cabeça em Copenhagen.

O jornalista corporativo, que alimenta um sistema de circulação de informações agora reproduzidas à exaustão, pode estar ameaçado, como diz Muniz. Pauladas não faltam, e talvez a categoria não distingüa claramente os seus predadores – quando muitos passam a comunicar, a riqueza e a variedade de informações é justamente festejada, e muitos confundem o direito à palavra , que é de todos, com a responsabilidade profissional dos que tem condições de ordenar, decifrar e organizar os possíveis significados das falas – para todos. Tudo em meio a tecnologias substitutivas de mão de obra qualificada, achatamento salarial e tentativas cirúrgicas para desqualificação da atividade, como a proposta do fim do diploma (especificamente para jornalistas).

Pelo menos, ao contrário dos pombos gigantes da família Raphidae, cujas fêmeas só punham um ovo por ano, os jornalistas se reproduzem aos milhares nas incontáveis universidades concedidas em barganhas estratégicas por todo o país. Talvez essa mega oferta de fósseis reproduzidos em cativeiro permita uma evolução da espécie...

Diz Muniz: Se o tempo a futuro é o caminho da compreensão, ele também indica mudanças no presente... Muniz identifica uma regressão da escuta, já que blogs, mesmo circunscritos ao circuito cibernético, circulam e influenciam a pauta jornalística.

O espaço do jornalista cidadão está se ampliando, é significativa a mutação. O que não muda é o modelo calcado na lógica do trabalho. A emergência de outra lógica é o que está surgindo pela internet. O usuário passivo transmuta-se em usuário ativo. A leitura amplia-se como prática plural – está à disposição do leitor uma imensa gama de plataformas. E surge uma questão central: o newsmaking com a participação do usuário.



Entre os aspectos que envolvem o newsmaking, Muniz lançou mão de um conceito de Paul Virilio para chamar atenção para mudanças que alteram a própria percepção do público – o conceito do tempo adiado. Através deste conceito, explicou, pode-se analisar as conseqüências da dificuldade de ser lento, a influência da aceleração do tempo e a conseqüente queima do usufruto referente.

Murdoch, um dos maiores donos da mídia norte americana, diz que a cibernética não é responsável pela queda de circulação dos jornais - a causa é a mudança de vida das pessoas. A queda na venda dos jornais começou cerca de 20 anos antes da internet. E a cessão do poder da mídia abre para fechar, o que significa manter o poder, de forma diferente.

Rupert Murdoch é proprietário do ‘Journal’, com mais de 2 milhões por dia, e do ‘New York Post’, com 667 mil. Esteve para adquirir outras redes, numa escalada de centralização de controle de produção proporcional à multiplicação de cidadãos informantes inseridos momento a momento através da grande rede mundial. Vivemos um grande jogo de poder na disputa por influenciar através da informação. E Muniz lembra: o que num primeiro momento pode parecer cessão, é na verdade uma forma de tentar manter o poder. Quando, no início da palestra, nosso reconhecido pesquisador mencionou a campanha do Jornal O Globo (Muito além do papel de um jornal), não o fez gratuitamente.

O slogan do “padrão Globo de qualidade” foi sumariamente substituído pela rapidez e pela antecipação dos movimentos no tabuleiro: imagens para equipamentos wireless não tem qualidade nenhuma, mas estão lá. Informações vindas de cidadãos conectados, mas sem qualificação para análise ou compromisso ético com o jornalismo são falhas, mas estão lá. Sem checar, sem conferir, mas está lá. Topa-se (quase) qualquer parada para manter-se o lugar no imaginário do público (se a notícia estiver no ar, a gente sopra...). Muniz é conciso: o importante é escutar.
A censura é dificultada pelo tempo continuado das ocorrências na internet (...) A potência dos meios de difusão é superior ao conteúdo(...) Realidades prontas e constituídas geram fatos prontos e constituídos, transmitidos pelo jornal.

Com a nova abrangência de inclusão participativa proporcionada pela Internet, as realidades locais, geográficas ou auto-referentes, estão cada vez mais presentes através do jornalismo participativo, o que faz o Prof. Muniz trazer a tona a questão da legitimidade que os jornalistas, através do direito civil, têm de expressar opinião, ajudando o cidadão a falar livremente. São historicamente testemunhas com direito moral de reproduzir relatos. Está em processo de construção o Novo Jornalista, que precisa repactuar sua relação com o usuário das mídias.

O blogueiro ainda não é jornalista, mas poderá vir a sê-lo, conclui Muniz Sodré.

Sintomaticamente, a palestra do dia seguinte, sobre Jornalismo Investigativo, também tem início com uma pergunta: todo jornalismo não é investigativo, se a base da atividade é uma boa apuração? Marcelo Beraba, Presidente da Associação Brasileira de Jornalistas Investigativos (ABRAJI), faz a distinção de forma simples. Ao experenciar o cargo de ombudsman no jornal Folha de São Paulo, passou a ver o jornalismo com outros olhos. Através das reclamações dos leitores, ele teve a dimensão de o quanto cada mínima informação, especialmente as de serviço, como horários e endereços, devem ter precisão, serem checadas antes de publicadas pelo tanto que influenciam na qualidade de vida dos leitores.
Uma pessoa que só tenha um dia na semana para se divertir fica revoltada com o jornal que publica o horário do cinema errado, fazendo com que ela perca o tempo de lazer disponível. Qualquer informação, de qualquer área, deve ter precisão, através de uma apuração bem feita.

O jornalismo a que Beraba dedica-se na ABRAJI é o de acompanhamento de processos públicos, abrange a distribuição de recursos e as próprias políticas públicas através de acompanhamento, de um olhar vigilante que não se restringe a crimes e casos de corrupção, mas inclui economia, urbanismo e todas as áreas vitais para a população.

Uma das pautas da ABRAJI é identificar o que deve ser exigido de um jornalista para identificá-lo como investigativo, como qualificar o jornalista investigativo. Entre as qualidades iniciais básicas estão ter bom “faro”, bom texto e boa apuração. Iniciais porque, com o tempo, Beraba defende a tese de que as deficiências de formação tendem a agravar-se na prática do dia a dia. Daí a importância de reciclagem e do aprimoramento profissional, no sentido de haver uma renovação profissional dos fundamentos do jornalismo.
O presidente da ABRAJI ressalta que o repórter saber levar depoimentos para a redação não é suficiente, assim como a reprodução pura e simples de releases não esclarece a situação que está sendo apurada. É preciso contextualizar a informação. Saber perguntar, saber entender o que envolve a situação.
O jornalista-testemunha é o personagem mítico-real que faz a diferença. Melhorar o trabalho jornalístico exige ferramenta de apuração. Para fazer sentido, as técnicas de reportagem precisam ser desenvolvidas e aprimoradas, como recursos que lançam mão de apuração de documentos oficiais, internet, leitura de balanços financeiros e do Diário Oficial.

Angelina Nunes, Editora de Cidade de O Globo, comunga das mesmas idéias. Ela falou para a platéia da Meio a Meios a respeito das reportagens especiais “O milagre da multiplicação, a farsa das 10 mil obras”, desenvolvidas a partir da campanha publicitária do governo de Rosinha Garotinho, governadora do Rio de Janeiro, divulgada em março de 2006.

A listagem das obras, colocada na internet, foi capturada pelo Globo e colocada em planilha Excel. Um trabalho exaustivo de organização dos dados mostrou que a listagem incluía muitas obras subdivididas e muitas outras superdimensionadas (consertos de ar condicionado e até consultas ao dentista viraram obra de governo).

Reações rápidas do governo e reportagens que comprovavam as denúncias só possíveis de terem sido feitas pela união da equipe do jornal deram cor ao depoimento de Angelina. A reportagem havia denunciado obras fantasmas. O governo mandou fotos para provar que as obras existiam. Às 19h30min, uma equipe saiu da redação para mostrar que as fotos eram falsas – as obras não existiam. Assim foi evitado o “gap” da suite, e no mesmo dia do questionamento, a contraprova dos repórteres do jornal foi publicada.

Em julho de 2006 o TCE (Tribunal de Contas do Estado) averiguou que mais de dois mil serviços de rotina haviam sido listados para constarem como obras executadas pelo Governo Rosinha Garotinho.

Por fim, o jornalista blogueiro Jorge Antonio de Barros (www.reporterdecrime.blogger.com.br) fechou as palestras sobre Jornalismo Investigativo, falando a respeito dos conceitos utilizados pelos serviços de segurança que, segundo ele, são base importante para o jornalista criminal saber com o que está lidando. Jorge não concorda com a terminologia “Repórter de Polícia”, já que esta forma de identificar o repórter que cobre a área criminal tende a confundir ainda mais o tipo de relação que se estabelece entre os dois campos profissionais: o repórter que cobre assuntos ligados à segurança precisa dos dados da polícia... Mas o lugar do jornalista não deve ser confundido com o do policial.

Jorge fez, no entanto, um paralelo entre alguns dos conceitos utilizados pela Doutrina de Segurança Pública e as técnicas de trabalho do repórter investigativo. Ele mencionou os 3 “S” – sigilo, suor e sucesso. Jorge repetiu, ao explicar cada um destes “esses”, um bordão usado por muitos antigos repórteres experientes: lugar de repórter é na rua. Há, em sua opinião, certo abuso no uso de ferramentas que inquestionavelmente auxiliam a reportagem: o telefone e o Google...

O trabalho jornalístico, diz Jorge, não tem nada de policial, nem de judiciário: o objetivo é expor, publicar, trazer a público.

A palestra do segundo dia terminou com o auditório cheio, e no dia seguinte o tema Jornalismo Esportivo garantiu casa ainda mais cheia e entusiasmada.

A força do jornalismo esportivo se fez presente no auditório lotado, que esperou indócil o início das falas de Eraldo Leite, Coordenador de Esportes da Rádio Globo, presidente da Associação de Cronistas Esportivos do Rio de Janeiro e ex-aluno da ECO/UFRJ, de Renato Maurício Prado - SporTV (Bem, Amigos!), colunista d'O Globo, fundador e ex-diretor do jornal Extra, de Alex Escobar, também do SporTV e da Rede Globo e do colunista do diário Lance!, Carlos Alberto Vieira. A mediação coube ao Prof. da ECO e Diretor Adjunto de Graduação, Amaury Fernandes – ouvinte assíduo de programas esportivos.

O pontapé inicial foi dado pela organização do evento, que anunciou os vencedores do I Concurso de Produção Textual da Meio a Meios, aberto também a estudantes de outras instituições. O resultado, produto de uma escolha entre artigos de excelente qualidade, foi este: em primeiro lugar, Julia Silveira, da ECO, com o texto “Os Construtores do Amanhã”. Em segundo lugar, Pedro Ayres, da PUC-Rio, com o artigo “Respondendo Mais que Seis Perguntas”. E o terceiro lugar ficou com Leopoldo Mateus, também da ECO, que escreveu o texto “A Verdade e Seus Obstáculos”.

Renato Maurício Prado, que começou sua fala reclamando pela forma como foi apresentado, defendeu a formação do jornalista e do diploma para um melhor desempenho profissional. Falou da importância do domínio da língua portuguesa para o jornalista, que precisa ler, e muito, para ter um bom texto, claro e bem escrito.

Eraldo Leite, ex-aluno da ECO, falou a respeito da sua emoção em estar ali, vendo o Auditório Pedro Calmon cheio daquela maneira, do reencontro com antigos colegas e das lembranças que aquele ambiente lhe trouxe. Vindo do interior, de Campos, Eraldo estranhou a cidade grande mas esforçou-se para conseguir vencer a timidez, e conseguiu. Construiu uma trajetória de perseverante trabalho. Como estagiário na Rádio Globo no final da década de 70, aplainou o terreno onde plantou firmes raízes. Hoje, Eraldo é um dos principais jornalistas da Rádio, tem seu programa fixo e responde pela presidência da Associação dos Cronistas Esportivos do Rio de Janeiro, onde venceu uma eleição importante – a gestão anterior vinha de vários mandatos consecutivos.

Carlos Alberto Vieira abordou o jornalismo esportivo impresso, falando de sua atuação em um dos maiores diários esportivos do Brasil. Questões editorias, de apuração e relacionamento com figuras do esporte e principalmente do futebol foram levantadas pelo jornalista.

Por último Alex Escobar falou da experiência de apresentar programas de grande sucesso na televisão e contou sua curiosa trajetória no meio da comunicação, desde sua atuação como radialista até despontar como apresentador do quadro de esportes do jornal Bom Dia Brasil. Finalizou sua fala comentando a falta de um diploma de jornalista em sua carreira.

A maior parte das perguntas dos alunos dizia respeito às maneiras de chegar aos veículos e atuar na área do esporte. A todos, a palavra era confiança, perseverança, trabalho.

Humberto Tziolas, Editor do Jornal Meia Hora, Octavio Guedes, editor executivo do Jornal Extra, Renata Souza, do Jornal O Cidadão, da Maré, e Maurício Menezes, autor do Plantão de Notícias, onde revela como cronista os bastidores da atividade profissional com muitos shows no currículo, falaram a respeito de suas atividades, tendo como foco o jornalismo popular, cidadão. A mediação foi feita pela Profa. Cristina Rego Monteiro (ECO/UFRJ).

Humberto Tziolas abriu o relato falando das atividades do Jornal Meia Hora, que considera um sucesso, porque atende a um público que gosta de ficar informado, mas tem pouco tempo e dinheiro para isso. Disse da sua preocupação, como editor responsável, em ser claro no texto sem ferir ou ofender, evitando o sensacionalismo. Algumas perguntas surgidas no debate deixaram no ar certa polêmica quanto à confirmação desse objetivo, do ponto de vista do público presente.

Octavio Guedes, que vinha do jornalismo econômico, viu-se transportado para um universo de valores jornalísticos diferente, ao ser alçado à condição de editor responsável pelo Jornal Extra. O preconceito deu lugar ao conhecimento de uma realidade onde o que importa é explicar com clareza e simplicidade o máximo de acontecimentos jornalísticos que importem ao seu público. O Extra nasceu para disputar com O Dia um público que precisa informa-se, e que tem também necessidade de serviços.

Foi citada a jornalista Marcia Amaral, que escreveu um livro a respeito do Jornalismo popular. É ela que diz que “o mercado dos jornais populares cresceu, mudou, e quem conhece o chavão sensacionalista para tratar do tema, precisa se atualizar...”

Ela confirma que o público que busca o sensacional também busca hoje serviço e entretenimento. As estratégias para a sedução deste público incluem abordar vida das celebridades, a questão da inoperância do poder público e o cotidiano do universo das pessoas comuns: SUS, INSS, segurança pública, marcado de trabalho, futebol e TV.

Octavio Guedes falou da sua dedicação 24hs na produção do jornal. Mostrou alguns casos de coberturas premiadas e lembrou que em 2005, dos 8 jornais de maior circulação no país 3 eram destinados a públicos mais populares: Extra, O Dia e o Diário Gaúcho. E em agosto de 2007, o tablóide mineiro Super Notícia, de Belo Horizonte, batia o primeiro lugar no IVC (Instituto de Verificação de Circulação), com 300 mil exemplares diários vendidos. Nesta mesma época, o Extra desbancou o Estadão (jornal Estado de São Paulo). Trata-se do jornal mais vendido do Brasil, ainda segundo o IVC.

Todos os jornais fizeram reformas gráficas, trazendo para os impressos mais cor, infográficos reportagens mais curtas. Se o jornal está morrendo, como a pressão digital leva muitas pessoas a acreditar, ele também está dando mostras de revitalização. Segundo a Intermeios, da Meio e Mensagem, em 2007 os jornais ficaram com 16,3% das verbas publicitárias do mercado. É um índice que demonstra um processo de recuperação desde a queda de faturamento publicitário constatada a partir do ano 2000.

A jornalista Renata Souza, do jornal O Cidadão, da favela da Maré, trabalha com outra perspectiva. A questão para ela é a entrada da visão do jornalismo cidadão sem ser pela editoria de polícia. A presença dela no Seminário, declarou, já é uma conquista, pelo reconhecimento da atuação do jornal e a possibilidade de garantia de um espaço de visibilidade na discussão do conceito do jornalismo cidadão.

Renata também chamou atenção para o fato de que o jornal, interagindo sem tantas mediações e atuando de forma mais direta com seu público local, serve como pauta e fonte para a grande imprensa. Esse registro demonstra, segundo Renata, a qualidade da informação oferecida, mesmo com a escassez de recursos, que dificulta a manutenção regular da periodicidade do jornal. “A gráfica que nos garante a impressão em época de eleição fica muito comprometida, por exemplo, com a impressão de santinhos e material eleitoral. E aí, temos que esperar...”

Maurício Menezes fechou o ciclo de palestras contando casos dos bastidores do jornalismo. Alguns sérios, como vivenciou ao responder pela assessoria de comunicação do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, quando a discussão de casos em que a imprensa atuava a partir de uma reação emocional e ele buscava explicar que a posição da justiça baseava-se na Lei.

Algo como no caso da Escola Parque, em que a imprensa divulgou uma informação arrolada no inquérito policial que depois comprovou-se ser falsa. A vida dos proprietários da Escola foi arruinada por uma acusação de pedofilia, que depois comprovou-se inverídica. Acontece que quando foi dada a sentença, a Escola já tinha ido à falência, e seus proprietários, inocentes, tiveram sérias repercussões na saúde e em suas vidas privadas.

Mas casos engraçados também fazem parte da profissão, como o que ele mesmo estrelou, com 3 anos de profissão, trabalhando como repórter na Rádio Globo. Chegando à Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro para entrevistar o Arcebispo D. Eugênio Sales, Maurício foi logo anotando a presença de outras autoridades eclesiásticas, Bispos etc. Entre eles, um rapaz jovem, Adionel Carlos, Assessor de Imprensa da Cúria, que dava explicações aos jornalistas e organizava a entrevista coletiva. Maurício candidamente comentou com os colegas – “Que coisa, hein gente. Esse aí, tão jovem, já é Adionel... Daqui a pouco esse cara chega a Papa...”

Ele achou que Adionel era um cargo da Igreja...

E a Meio a Meios, num clima de bom humor e saudável autocrítica, cumpriu sua segunda edição com brilhante qualidade, deixando a expectativa de continuidade e a comprovação da capacidade dos alunos da Escola de Comunicação da UFRJ.


Revista Vetor – Ano 2 – Número 2 – Dez. 2008