Quebra de paradigmas

Engana-se quem pensa que a engenharia é uma profissão que lida apenas com frios cálculos matemáticos, plantas, areia e cimento. A palestra ministrada pelo professor Tale do dia 26 de março, na Semana da Engenharia Civil do Centro de Tecnologia da UFRJ, mostrou que a categoria também deve estar atenta para as relações inter-pessoais e para os problemas da sociedade. Cobertura do PET-ECO. Leia mais.

A questão da ética também emergiu como um importante e preocupante ponto de discussão no seminário, em que foi inúmeras vezes evocada como forma de questionar a atuação dos graduandos.

O fato é comprovado pela observação, por parte do docente, de que o mercado de trabalho das engenharias está cada vez mais à procura de profissionais que também sejam gestores. Os grandes contratos são firmados com aqueles que se capacitaram em sistema de gestão de qualidade, ambiente, segurança, saúde e responsabilidade social. A partir daí, pode-se constatar que além de ser bom nos cálculos, o engenheiro também deve ter uma boa formação na área de humanas, ou pelo menos, ter uma perspectiva mais sensível com as relações pessoais.

Em relação à prática da engenharia, foi consensual que o trabalho executado deste profissional deve ser o mais bem feito possível. Não há a possibilidade de se tolerar um cálculo incorreto, um projeto errado. A consciência do engenheiro deve sempre circular em torno do risco de vida que os indivíduos podem estar submetidos naquela estrutura predial. A etapa de sondagem de um solo foi eleita como parte de suma importância de uma obra, para que problemas como desmoronamento não venham a ocorrer e matar dezenas de pessoas.

Contudo, o engenheiro e presidenta da AEEERJ Francis Bogossian se limitou a falar mais do atual ensino da engenharia no Brasil. Bogossian apontou vários problemas na grade curricular dos cursos, que em seus quatro primeiros períodos são extremamente teóricos e cheiram a mofo. Para o engenheiro que já foi professor, “esses primeiros períodos devem ser mais atualizados para não decepcionarem e frustrarem os alunos logo no início da faculdade”.

A afirmação faz sentido desde que somada a ela se coloque a informação de que o número de desistências no início dos cursos é preocupante. A obsolescência da grade curricular dos cursos de engenharia é justificada, em boa parte, pela falta de atuação do Ministério de Educação e Cultura (MEC). “O MEC impede o avanço das atualizações”, diz.

Outra questão levantada pelo engenheiro é a incoerência de aulas ministradas por professores de áreas específicas para os futuros engenheiros. “Professores de cursos de química e física lecionam para alunos de engenharia. Eles não saberão mostrar aos alunos as aplicabilidades dessas ciências para as especificidades da engenharia, frustrando os estudantes”, criticou Bogossian.

Por último, chamou a atenção para o binômio professor-engenheiro. Francis Bogossian acredita que lecionar obriga o professor a se manter atualizado e para isso ele deve “encarar” as obras. “A prática da profissão é importante para se lecionar. Executar o trabalho de engenheiro é muito vantajoso para o professor. Mesmo aqueles que estão no mestrado e doutorado necessitam exercer a engenharia”, finalizou.


Revista Vetor – Ano 2 – Número 2 – Dez. 2008