Clima de recepção aos calouros na Semana de Engenharia Civil da UFRJ

Professores dão explicações sobre o curso e recriminam o trote.

Por João Reis, 14/03/09

Por ter sido realizada na segunda semana de aulas da UFRJ, a Semana de Engenharia Civil serviu também como espaço para integração dos calouros à Escola Politécnica.

Professores e coordenadores da Escola tiveram a oportunidade de explicar mais detalhadamente o funcionamento e regulamentos do curso de engenharia civil, com destaque para as ênfases (habilitações possíveis do curso) e para o fato de que os trotes são proibidos.

Esse último tema, aparentemente o mais polêmico do dia, foi o assunto principal da mesa de abertura, que contou com a participação do Vice-Diretor da Escola Eduardo Serra. Ele garantiu que a prática do trote será sempre punida.

- O veterano que organiza o trote não tem, de modo geral, liderança político nem é bom aluno. Por outro lado pensamos que a integração entre os alunos é importante, o que não nos impediu de suspender 14 alunos no ano passado, que tentaram dar trote, pois queremos evitar essa cultura de humilhação – disse Serra.

Em consonância com o vice-diretor, Marcelo Gomes Miguez, coordenador do curso, justificou sua posição contrária aos trotes.

- O trote demonstra uma relação de falsa superioridade do veterano, e é inaceitável que ocorra numa instituição como a UFRJ.

Calouros são apresentados às ênfases da Escola Politécnica

Outro aspecto que não recomendado pelos docentes é o estágio antes do ciclo profissional, quando já estão cursando uma das ênfases possíveis do curso.

- A atividade mais nobre que a ser desempenhada pelos estudantes durante a graduação é a iniciação científica. Estágios antes do oitavo período são prematuros e servirão mais às empresas do que aos alunos – afirmou Miguez.

As ênfases são as especializações que os estudantes de engenharia podem seguir no curso, a partir do sétimo período. A mais tradicional delas, a construção civil foi a primeira a ser apresentada.

Segundo a professora Elaine Garrido Vasquez, a construção civil, além de ser um curso que dá uma visão ampla ao engenheiro, é o lugar certo para quem quer fazer concurso público.

- As ementas deste curso e a cobrada nos concursos coincidem no mais das vezes – explicou.

Ela destacou que essa ênfase preza pela valorização da preservação ambiental, racionalização do consumo energético e planejamento urbano. O que é importante para uma atividade considerada por muitos como ‘vilã ambiental’.

- A construção civil é responsável por 12% do uso de água, 30% da emissão de gases, 65% da produção de resíduos e 70 % do consumo de energia – alertou a professora.

Aproveitamento da água no Brasil está entre os piores do mundo

Tais porcentagens, sem dúvida expressivas, fazem da gestão dos recursos hídricos, outra ênfase apresentada no primeiro dia de evento, uma área-chave da engenharia civil atualmente.

Segundo o professor Paulo Canedo, a água é um agente limitador do desenvolvimento dos povos, fato que foi percebido primeiramente na Ásia e, em seguida, na Europa, onde passaram a implementar programas para um uso eficiente da água. No entanto, no Brasil, que é o país da água, tal recurso não é aproveitado de maneira adequada.

- O sertão brasileiro, por exemplo, possui a mesma quantidade de água que a França, que é um país desenvolvido. Contudo, trata-se da região mais pobre do Brasil – disse o engenheiro, lembrando que a produção por metro cúbico de água gasta no Brasil é uma das menos eficientes do planeta.

Canedo afirmou que é preciso precaver-se desde já quanto às dificuldades propiciadas pela questão da água, cuja escassez já afeta algumas partes do mundo. Um dos problemas que já é motivo de preocupação e debates entre diversos países é a produção de alimentos, que é ameaçada diretamente pela oferta de água.

- No início do século XXI, a ‘dispensa’ do mundo ficou vazia, fato que está relacionado com as dificuldades de irrigação, contaminação e secamento de aqüíferos, bem como sistemas de drenagem falhos, que não impedem enchentes.

Cabe, portanto, aos futuros profissionais de engenharia, além de seguir exercendo suas atividades técnicas, importantes para a manutenção e desenvolvimento das cidades, ter sempre em vista as questões sociais e ambientais. Caso isso seja perdido de vista, a própria atividade da engenharia civil poderá ter seus dias contados, já que depende diretamente da oferta de recursos naturais.